No dia 27 de outubro de 2020, jornais da Catalunha e da Espanha divulgaram um anúncio feito pelo secretário de Políticas Digitais da Generalitat de Catalunya, Jordi Puigneró, sobre o lançamento de dois nanossatélites catalães e o projeto de criação da Agência Espacial da Catalunha. Os planos fazem parte do chamado NewSpace, o setor industrial dos voos espaciais privados. Mais especificamente, o NewSpace:
- faz parte de uma nova economia baseada na democratização do espaço e da indústria aeroespacial;
- está ligado ao uso de satélites menores (nanossatélites), de menor custo e menor tempo de desenvolvimento, em comparação com os satélites atuais. Esses nanossatélites são de baixa órbita;
- inclui tecnologias que permitem, por exemplo, melhorar a gestão das adversidades climáticas e meteorológicas, e a conectividade 5G.
O impulso à Estratègia NewSpace de Catalunya visa fazer da Catalunha um “polo de inovação, liderança, e atração de talentos e empresas” ligadas a esse setor industrial em crescimento. De acordo com Jordi Puigneró, o investimento inicial, que servirá para o lançamento de dois nanossatélites (o primeiro deles em 20 de março deste ano, na base de lançamentos espaciais de Baikonur, no Cazaquistão), é de 2,5 milhões de euros. Entre 2020 e 2023, o orçamento do governo catalão para o desenvolvimento do programa espacial será de 18 milhões de euros.
Puigneró disse que “a Catalunha não quer perder a oportunidade gerada nessa indústria de alto valor agregado”, e calcula que “cada euro investido nesse setor se multiplicará por quinze nos próximos anos”. Mais especificamente, o governo catalão estima que o projeto espacial crie 1.200 vagas de emprego, e um faturamento de 280 milhões de euros até 2025.
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Catalunha e a economia espacial: definições, capacidades e etapas
A economia espacial nada mais é que um novo setor econômico de alto valor agregado, gerador de oportunidades, crescimento econômico e de empregos por meio de nanossatélites de baixo custo e órbita baixa. Essa economia tem como principais aplicações a pesquisa científica, o desenvolvimento da tecnologia espacial, a observação da Terra, e as telecomunicações. Entre os benefícios, estão a melhora da gestão do território a partir dos dados obtidos da observação da Terra, e o desenvolvimento de novos serviços baseados em tecnologias digitais avançadas.
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O que capacita a Catalunha para os projetos espaciais?
De acordo com o relatório do departamento de Políticas Digitais do governo catalão sobre o programa espacial, a Catalunha dispõe de um “conjunto de capacidades que a faz idônea para o desenvolvimento do ecossistema NewSpace”. Mais concretamente, a Catalunha possui uma “cultura empresarial, técnica, científica e empreendedora enraizada, em que a iniciativa privada é capaz de perceber essa nova tendência como uma oportunidade, não como uma excentricidade“.
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Centros de pesquisa e inovação
Atualmente, existem 14 centros de pesquisa e inovação na Catalunha que, de uma forma ou outra, estão relacionados ao espaço (a lista pode ser encontrada na tabela 3.1 do relatório).
Empresas do setor aeroespacial
A indústria aeroespacial na Catalunha está em um momento de destacável crescimento, graças à criação de novas empresas locais e instalação de empresas internacionais no território catalão, aproveitando, em grande medida, a tração dos setores de TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) e de comunicações móveis. Conforme apresenta o relatório, muitas dessas empresas são PIMES (em catalão, Petites i Mitjanes Empreses – pequenas e médias empresas) e, por isso, contam com um número limitado de trabalhadores, que se dedicam à exploração e tratamento de dados.
Empresas com potenciais sinergias com o setor espacial
Diversas empresas catalãs executam tarefas fundamentais no desenvolvimento do NewSpace, mas não estão focadas no desenvolvimento de satélites. Porém, o relatório do projeto espacial catalão apresenta uma lista de empresas que mostram sinergias com o setor espacial, como:
- 2CISA: essa empresa se dedica à fabricação de circuitos impressos, que podem ser utilizadas em subsistemas de satélites;
- CIM-UPC: dedicada, entre outras coisas, à fabricação de peças mecânicas, digitalização de peças e comparação com o modelo em 3D. Esse serviço é útil na criação de estruturas para satélites.
Infraestruturas científicas e tecnológicas
Catalunha dispõe, ainda que de maneira dispersa e nem sempre facilmente acessível, de uma rede de infraestruturas que permitem a realização de ensaios necessários para a qualificação e testagem de equipamentos espaciais. Além disso, existem centros com equipes dedicadas à fabricação e integração de componentes de nanossatélites (informações apresentadas na tabela 3.4 do relatório).
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Etapas do projeto espacial da Catalunha
A Estratègia NewSpace de Catalunya é explicada de duas formas: por meio do relatório (apresentado acima), e por meio de um infográfico. Nesse segundo material, publicado em novembro de 2020, foram definidas as seguintes etapas do projeto espacial catalão:
- criação da nova Agência Espacial da Catalunha;
- ativação da infraestrutura experimental avançada de telecomunicações NewSpace, em colaboração com o Instituto de Estudos Espaciais da Catalunha (IEEC);
- lançamento do primeiro nanossatélite catalão no primeiro semestre de 2021 (de fato, a data já está confirmada: 20 de março, às 07h07 – hora catalã). O segundo nanossatélite deverá ser lançado entre o fim de 2021 e início de 2022;
- ativação e validação de aplicativos e serviços experimentais de conectividade global da Internet das Coisas, processamento de imagens e teledetecção de observação terrestre.