O Ministro de Educação que tinha o objetivo de “espanholizar os alunos catalães”

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Ao longo dos últimos dez anos, o mês de outubro tem sido um dos mais marcantes do calendário catalão. Os maiores exemplos disso são os anos de 2017, com a realização do referendo de autodeterminação em 1º de outubro, e em 2019, com a sentença do Tribunal Supremo espanhol contra os líderes civis e políticos catalães envolvidos na realização do referendo (ao todo, foram condenados a 100 anos de prisão).

Nesse domingo, 31 de janeiro, a língua catalã esteve no centro das polêmicas, já que a RTVE (Radio y Televisión Española) havia determinado que o debate das eleições catalãs aconteceria em espanhol, e teria um apresentador de Madrid. A própria filial da RTVE na Catalunha (TVE – Catalunya) publicou um comunicado com críticas aos critérios da RTVE, já que a imposição da emissora vulnerava a lei espanhola 17/2006 de rádio e televisão. Nessa lei, mais especificamente no Artigo 3.1 da seção E, é exigido que a RTVE “promova a coesão territorial, a pluralidade, e a diversidade linguística e cultural da Espanha“. Entretanto, os participantes dos partidos independentistas (JxCat, CUP, ERC e PDeCAT) recusaram a imposição da RTVE, e afirmaram que falariam em catalão durante o debate.

Não são poucos os casos em que a língua catalã é deixada de fora do nível de igualdade perante as demais línguas europeias. No Aqui Catalunha, publicamos alguns deles:

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Por outro lado, a fim de respeitar o nosso compromisso com a língua catalã, promovemos em nosso portal o acesso a diferentes fontes de informação originalmente em língua catalã. O melhor exemplo desse compromisso são as rádios em catalão. Os interessados em filmes em catalão encontrarão informações nesta publicação.

Finalmente, o tema central deste artigo. Em 2012, o Ministro de Educação espanhol, José Ignacio Wert, declarou no Congresso espanhol que a intenção do governo era “espanholizar os estudantes catalães”, a fim de que eles “se sentissem tão orgulhosos de serem espanhóis como catalães”.

As palavras de Wert no Congresso espanhol – 10 de outubro de 2012

José Ignacio Wert havia sido indagado por Francesc Vallès, deputado socialista, sobre uma suposta relação que o Ministro de Educação havia feito entre o crescente sentimento independentista em algumas comunidades autônomas com o novo direcionamento dado aos projetos de educação. Vallès queria saber se aquilo era certo, e solicitou que Wert desse explicações. Conforme detalha o portal de notícias Público, sobre o debate entre Vallès e Wert, o Ministro de Educação disse que “a deriva que tomou parte do sistema educativo na Catalunha facilitava o ocultamento ou minimização dos elementos comuns, particularmente os históricos, que configuram a história da Catalunha dentro da Espanha”.

Segundo Wert, a etapa do Batxillerat (para alunos de entre 16 e 18 anos, e não obrigatória) na Catalunha tem exemplos que confirmam a “minimização dos elementos comuns”:

Por exemplo, no segundo ano do ‘Bachillerato’, o que, no Decreto de Ensino Mínimo, comum e de aplicação dentro da Espanha, é chamado de ‘História da Espanha’, na Catalunha, segundo um decreto seu, de um conselheiro que era do seu partido, é chamado de ‘História’. E nele, a história da Espanha tem menos espaço que a história da Catalunha.

“Pois sim, é que o nosso interesse é espanholizar os alunos catalães”

Posteriormente, Wert citou uma acusação feita por Irene Rigau, então Conselheira de Ensino do governo catalão. Rigau havia dito que Wert tinha a intenção de espanholizar os estudantes catalães. O Ministro de Educação não teve dúvida:

A senhora Rigau, que é de outro partido, Convergència, disse em outro dia que nosso interesse é espanholizar os alunos catalães. Ela disse não disse isso como elogio. Pois sim, é que o nosso interesse é espanholizar os alunos catalães, e que se sintam tão orgulhosos de serem espanhóis como de serem catalães.

Perguntado sobre as declarações de Wert, Mariano Rajoy preferiu não fazer muitos comentários, dizendo que sua prioridade era que “todo mundo se sentisse orgulhoso de ser espanhol e catalão”.

Vale a pena ler: Como é o sistema de ensino na Catalunha?

* Referências de suporte: Público | El País

 

 

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