Portal G1, aprenda a informar melhor sobre a Catalunha

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Não é a primeira e nem será a última carta aberta deste portal a algum meio de comunicação em língua portuguesa. Em respeito aos nossos leitores e àqueles que ainda não conhecem o nosso portal, e desejam saber mais sobre a atualidade catalã, escrevo este editorial para esclarecer alguns pontos citados pelo Portal G1 sobre a Catalunha. É inadmissível que um meio de comunicação com tanto poder de repercussão continue a tratar um tema tão importante de maneira tão amadora e desleixada.

As “informações” do Portal G1 sobre a política catalã

O Aqui Catalunha existe para fazer o que os portais de língua portuguesa, sejam no Brasil, em Portugal ou em qualquer outro país lusófono, não fazem: tratar a atualidade catalã no noticiário sobre a Espanha da maneira que precisa ser tratada. Isso é feito por meio dos seguintes pontos:

  • Pesquisa aprofundada na maior quantidade possível de sites, não apenas por meio de acordos com agências internacionais. O Aqui Catalunha não possui acordo com nenhuma agência, mas sabe pesquisar;
  • Por meio da aprendizagem da língua catalã. Por quê? Porque é pela língua catalã que os redatores poderão entender melhor a atualidade da Catalunha. É um gesto de ignorância deixar esse fato de lado. São as línguas próprias de um território, e minorizadas em um contexto amplo, que traduzem e descrevem melhor uma determinada realidade. Neste editorial, cito o exemplo do portal Vilaweb.

Esses são dois pontos básicos. Trabalhosos? Sim, mas necessários para quem leva o jornalismo a sério. Na notícia sobre o discurso de Pedro Sánchez em Barcelona, nesta segunda-feira, o jornalismo sério não foi deixado de lado pelo Portal G1: foi pisoteado.

Mas de que maneira o Portal G1 construiu a notícia sobre a visita de Sánchez a Barcelona? Quais informações foram usadas para relembrar alguns dos líderes independentistas catalães presos? Vejamos:

  1. Em nenhuma parte da publicação, o Portal G1 contextualizou a visita de Sánchez à capital catalã. Como vocês podem ver em nossa página no Facebook, publicamos quatro vídeos que mostravam a parte exterior do Teatro Liceu, onde Sánchez fez seu discurso sobre os indultos. Por que o Portal G1 não citou a manifestação? Apenas por não ter havido confronto entre policiais e manifestantes?
  2. O uso do termo “separatista” em vez de “independentista”. Existe uma diferença sutil entre os termos, e qualquer jornalista que respeite a profissão e a inteligência dos leitores deve conhecê-la. Na Catalunha, existe um movimento popular pela independência. Existe a vontade de independência por muitos motivos. Mais uma vez, é preciso informar aos nossos leitores que não é papel do portal Aqui Catalunha defender ou ser contra a independência catalã. Aquelas pessoas que consideram o nosso trabalho a favor da independência da Catalunha precisam pensar duas vezes antes de dizerem determinadas coisas. Nosso trabalho é limitado ao fornecimento de informações sobre uma realidade. Isso tem um nome: liberdade de informação, que precisa ser defendida incondicionalmente. Conhecer realidades alheias ao nosso círculo é enriquecedor. Quanto mais informações, menos ignorância. Voltando à distinção entre “separação” e “independência”: “separatismo” é um termo majoritariamente associado a uma visão negativa e, quando possível, a acusações contra um movimento terrorista. Até onde sabemos, o movimento independentista catalão não se caracteriza por ter laços com o terrorismo. Por que existe tanta resistência em usar o termo correto? Será por algum medo de que algo semelhante aconteça em largas proporções em outro país lusófono?
  3. De acordo com o Portal G1, Oriol Junqueras era “o presidente da Catalunha” em 2017. Independentemente dos termos utilizados, que não foram os que usei, entre aspas, o conteúdo mais grave está na função dada a Junqueras. Em 2017, o presidente catalão era Carles Puigdemont. Oriol Junqueras era o vice-presidente. Uma pesquisa inocente no Wikipedia impediria um erro tão estúpido como esse. Há referências em português, de fácil compreensão.
  4. Carme Forcadell é descrita como a que foi “líder do Parlamento catalão”. Como assim “líder”? Onde está o respeito? Ela foi Presidenta. Da forma que a informação foi apresentada, parece que o Portal G1 estava se referindo a uma líder de um grupo criminoso. Além disso, como complemento, o G1 “informa” que, antes de Carme Forcadell ser “líder” do Parlamento, pertenceu a “uma organização da entidade civil separatista”. O Portal G1 poderia ter feito um trabalho decente se houvesse informado que Carme Forcadell, antes de ser Presidenta do Parlamento catalão, foi Presidenta da entidade civil independentista conhecida como Assembleia Nacional Catalã. Do jeito que o portal “informou”, parece que Carme Forcadell era uma delinquente de um grupo separatista e, de preferência, terrorista.
  5. Por último, para fechar com chave de papelão, o Portal G1 se refere a Jordi Cuixart como “ex-líder da organização Òmnium, de desobediência civil”. Ou seja, ignoram que ele ainda é o presidente da entidade, e que a Òmnium é Cultural (Òmnium Cultural), além de limitarem vergonhosamente a um papel de desobediência. Para quem não sabe, Òmnium Cultural teve um papel vital na promoção da língua e cultura catalãs. Trata-se de uma entidade que teve um papel fundamental na época da ditadura espanhola de Francisco Franco, em que a língua catalã era um elemento proibido, tal como as atividades da Òmnium Cultural. Assim, nessa “explicação” do Portal G1, não faltou “Cultura” apenas depois da palavra “Òmnium”…

Publicação editorial relacionada: A arte de construir em meio à destruição informativa

Esses foram os principais pontos de irresponsabilidade do Portal G1. Houve outros, ligados à revisão gráfica, mas seriam irrelevantes neste editorial (talvez seja um pouco mais relevante o desconhecimento sobre Dolors Bassa, tratada na matéria como homem, por meio do pronome pessoal ‘Ele’). É possível que alguém faça edições na matéria, por isso, vocês verão as capturas de tela registradas, para que ninguém caia na tentação de dizer que este editorial contém informações falsas.

Exigimos respeito aos leitores, paixão pelos detalhes e profissionalismo incansável. Portal G1, aprenda a informar melhor sobre a Catalunha.

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