Màrius Vendrell: “Os centros catalães no exterior estão abandonados, mas ainda vivos”

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Màrius Vendrell nasceu em Barcelona em 1950, mas já faz mais de seis décadas que mora no Brasil, onde os seus pais imigraram durante a ditadura franquista. Desde 2008, este barcelonês é presidente da Federação Internacional das Entidades Catalãs (FIEC), uma atividade que concilia com a presidência da Associação Cultural Catalonia, em São Paulo.

Em entrevista ao Aqui Catalunha, Vendrell conta as dificuldades que o tecido associativo catalão está enfrentando no exterior, e fala, também, sobre o eco da excepcionalidade política e social da Catalunha no Brasil.

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A Associação Cultural Catalonia em São Paulo comemorará o seu trigésimo aniversário no próximo mês de novembro.

Sim. Durante esse período, realizamos cursos de catalão, reuniões e palestras. Tentamos fazer de tudo, desde formar um grupo de canto coral até criar um grupo de castellers. Sempre tivemos as portas abertas para todo o mundo, mas muitas vezes as pessoas acabaram desistindo. Hoje, temos cerca de 70 membros, embora quando realizamos alguma atividade, só participam umas 20 ou 25 pessoas. O problema é estar em uma megalópole como São Paulo, onde leva muito tempo para se locomover. No Brasil, há apenas a Associação Cultural Catalonia, e isso, para nós, é uma responsabilidade muito grande. Segundo o Censo Eleitoral de Moradores Ausentes (CERA), em 2019 havia quase 12.000 catalães no país e, destes, 7.500 estavam inscritos na região de São Paulo. Se fizermos uma comparação com a Argentina, por exemplo, o número de catalães é o dobro, e lá há cerca de catorze centros.

Qual é o papel das entidades catalãs no exterior?

Elas são um ativo que o governo catalão possui no mundo. No total, existem 140 centros reconhecidos pela Generalitat, e são uma rede muito importante de representações não formais. Fazemos diplomacia pública, representamos o país. Mas a situação dos centros não é fácil. Carecemos de jovens que assumam os cargos atuais, e trabalhamos com doações e recursos mínimos. Estamos abandonados, mas ainda seguimos vivos como podemos.

Imagino que a pandemia do coronavírus complicou ainda mais a situação.

Màrius Vendrell, presidente da Associação Cultural Catalonia e da FIEC
Màrius Vendrell, presidente da Associação Cultural Catalonia e da FIEC

Muito. Agora, a sede da Associação Cultural Catalonia está fechada. Essa pandemia acabou completamente com a nossa motivação. Mas continuamos fazendo coisas. Por exemplo, em agosto e setembro, teremos três conferências virtuais, gratuitas e abertas a todos. Também continuamos ensinando catalão a brasileiros que querem aprender o nosso idioma. Estamos fazendo as aulas através da plataforma Zoom, e está funcionando bem. A maior parte da demanda vem de jovens brasileiros que querem trabalhar ou concluir os seus estudos na Catalunha. São cursos intensivos de quinze ou dezoito horas, de dois níveis diferentes e têm um preço simbólico para torná-los o mais acessível possíveis, porque entendemos que, com a pandemia, muitas pessoas ficaram sem dinheiro.

Há 12 anos que você também é o presidente da Federação Internacional das Entidades Catalãs (FIEC).

Sim. Sou presidente desde 2008. Hoje, temos cerca de 60 entidades associadas à FIEC, do total das 140 que existem no mundo. Fazemos um acompanhamento das leis e das questões de interesse dos catalães que vivem no exterior, questões como a lei eleitoral, por exemplo. É uma federação que deseja ser uma ponte entre um grupo de entidades e os grupos políticos catalães. Queremos ser um interlocutor entre a Catalunha do exterior e do interior. Chegamos onde uma única entidade não poderia chegar e, assim, ninguém precisa ir sozinho. Temos pouquíssimos recursos porque praticamente não temos subsídios, e muitas entidades não pagam a taxa. Mas continuamos, o que é o mais importante.

O conflito político entre a Catalunha e a Espanha tem passado por uns anos frenéticos. Como foi vivido no exterior?

O dia 1º de outubro de 2017 foi vivido com um grande entusiasmo, mas as pessoas se desmotivaram e houve muita desilusão. É verdade que realizamos algumas manifestações pelo referendo e pela liberdade dos líderes catalães na Avenida Paulista por meio da Assembleia Nacional Catalã (ANC) no Brasil. Mas, agora, a ANC daqui está congelada e, no máximo, conseguimos reunir cerca de 40 ou 50 pessoas.

E o povo brasileiro, como percebe tudo o que está acontecendo?

Aqui não chega muita coisa. Alguns meios de comunicação nacionais falaram sobre algumas manifestações na Catalunha, mas não dedicaram muito espaço nos jornais. Na verdade, foi graças ao Barça que conseguimos espalhar a nossa cultura e explicar um pouco mais tudo o que está acontecendo lá. Há alguns anos, a imprensa esportiva brasileira não falava do FCB como um time catalão, e agora sim o fazem, eles entendem que o time é um símbolo da catalanidade, e que as estelades que aparecem no Camp Nou não são a bandeira da Catalunha. Mas eles não aprofundam mais.

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* Entrevista realizada por Carla Samon Ros

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