Nesta quinta-feira, o jornal escocês The National publicou a notícia de que dois deputados escoceses, Ronnie Cowan e Joanna Cherry, teriam sido espionados durante uma concentração com membros da delegação catalã em Londres a favor dos líderes independentistas catalães julgados em Madrid.
Entrevistado pelo jornal, Ronnie Cowan disse que se sentiu “surpreso” quando soube da espionagem do governo espanhol. “Não sei o que estão tentando fazer ou provar, mas todos sabem do meu apoio à autodeterminação”, declarou o deputado do Partido Nacional Escocês. Cowan afirmou que “nenhum representante espanhol entrou com ele”, e que “não tem nada a esconder”: “Se querem falar comigo, que venham”.
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Suposta interferência do Estado espanhol em debates parlamentares
As supostas ações de espionagem e tentativas de boicotar atividades de membros das embaixadas catalãs na Europa tiveram presença, também, na Alemanha e no Reino Unido. De acordo com Eldiario.es, que havia divulgado as primeiras informações sobre o escândalo diplomático, embaixadores espanhóis em Berlim e Londres teriam tentado interferir em debates e atividades parlamentares ligados à Catalunha. Segundo o citado portal, o embaixador Ricardo Martínez Vázquez, por meio de um e-mail, explica que queria evitar o avanço, no Parlamento da Alemanha, da moção proposta pelo partido Die Linke, cujo objetivo era instar o governo de Angela Merkel a “atuar como mediador no conflito político entre Catalunha e Espanha”. Mais claramente, a mensagem do embaixador espanhol dizia: “Prepararemos munição verbal e escrita para todos os grupos parlamentares e representantes de todos os grupos, para avaliar a situação e frear a moção a qualquer custo. Há alguns dias, impedimos uma dúzia no Parlamento escocês”.
Já no Reino Unido, o cônsul espanhol Carlos Bastarreche enviou um comunicado ao ainda Ministro de Relações Exteriores da Espanha, Josep Borrell, com uma queixa sobre a “falta de imparcialidade” do porta-voz da Câmara dos Lordes, John Bercow, em relação ao conflito político. O britânico afirmou que “não evitaria um debate parlamentar sobre a independência”, e que, “diferentemente do contexto espanhol, não seria julgado por organizar um debate como aquele”. Em 2017, Carme Forcadell, ex-presidenta do Parlamento da Catalunha e, atualmente, presa política, havia permitido um debate sobre a independência catalã. Para a Promotoria de Justiça do Estado espanhol, a líder parlamentar cometeu um “crime de rebelião”, e pode ser condenada a 17 anos de prisão.
Ainda em relação às informações obtidas da espionagem, a embaixadora espanhola na Suíça, Aurora Díaz-Rato, havia solicitado ao governo espanhol a ajuda de um membro do Centro Nacional de Inteligência (CNI), a fim de que fossem investigadas as atividades da delegação da Catalunha em Genebra. Na mensagem, Díaz-Rato disse que era necessário “estudar a possibilidade de que o CNI nomeasse um conselheiro ou agregado residente em Genebra, pela importância crescente dos interesses multilaterais em jogo, instituições acadêmicas, sociedade civil… ao redor da chamada Genebra internacional”.
Reações no Parlamento do Reino Unido
Nesta quinta-feira, o deputado galês Hywel Williams denunciou a suposta espionagem espanhola pelo apoio à Catalunha. De acordo com Williams, o relatório enviado pelo governo espanhol ao Tribunal Superior de Justiça da Catalunha apresenta nomes de diversos membros da esfera política britânica, entre eles o da Primeira Ministra da Escócia, Nicola Sturgeon.
O presidente da Catalunha, Quim Torra, e o secretário de Relações Exteriores do governo, Alfred Bosch, enviaram uma carta aos governos da Alemanha, Irlanda, Suíça e Grã-Bretanha e a eurodeputados dos demais países denunciando a espionagem organizada por Josep Borrell. O Ministro do governo espanhol havia sido indicado como futuro responsável pela diplomacia da União Europeia.