Quando Bloomberg defendeu o referendo de independência da Catalunha

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Em 1º de outubro de 2014, Bloomberg, empresa global de informações financeiras e notícias, publicou um editorial com críticas ao então líder do governo espanhol, Mariano Rajoy, por se negar a negociar um referendo de independência da Catalunha. A seguir, o Aqui Catalunha apresenta a tradução feita para o português da publicação em inglês.

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Por que os espanhóis não permitirão que os catalães tenham um referendo de independência?

Como os escoceses, os catalães querem um referendo de independência. Porém, ao contrário dos britânicos, os espanhóis não querem deixar fazer. É um erro, e os dirigentes espanhóis precisam ter um sentido de Estado e permitir o voto dos catalães – nem que façam uma campanha a favor da união.

O governo catalão convocou um referendo para o dia 9 de novembro, mas o Tribunal Constitucional espanhol o suspendeu. É o mesmo tribunal que, em 2010, em um caso também impulsionado pelo Partido Popular do presidente Rajoy, cortou uma lei espanhola de 2006 que garantia mais autonomia à Catalunha. Desde então, os catalães têm estado descontentes, e o Partido Popular piorou ainda mais a situação ao erguer um muro para não ouvir as reivindicações dos catalães. E, também, provocando-os (o Ministro da Educação chegou a falar que era preciso ‘espanholizar as crianças catalãs’.

O apoio à independência superou os 50%, de acordo com as pesquisas, partindo de números bem inferiores: 15% em 2007. Será difícil que haja uma redução depois dessa sentença. O caminho para a independência, portanto, não foi interrompido.

A fim de evitar uma potencial onda de desobediência civil, e até mesmo de violência, Rajoy deveria ir à Catalunha e reconhecer pessoalmente os erros que seu partido cometeu. Deveria oferecer um recomeço de negociações para uma maior autonomia da Catalunha e maior controle dos próprios impostos. A exemplo do que lhe diria o primeiro ministro britânico, David Cameron, Rajoy deveria fazer essas concessões para poder manter seu país unido.

Deveria estar aberto, também, a uma reforma constitucional que descentralizasse os poderes, e inclui nela um recurso que permitisse às regiões espanholas votar pela secessão. Não precisaria que fosse necessariamente nos termos extraordinariamente generosos que Cameron negociou com a Escócia, mas isso criaria um caminho potencial para que os catalães pudessem, no mínimo, um referendo não vinculativo sobre o seu status. A abertura de negociações como essas levaria os catalães a abandonarem o referendo atual, caso acreditem que haverá uma via legal para votar sobre a independência.

Enquanto isso, Rajoy e os demais membros do governo espanhol deveriam iniciar uma campanha para demonstrar aos catalães (e aos bascos e galegos) que estariam melhores se continuassem na Espanha. Uma das vantagens da campanha de dois anos para o referendo escocês foi que ambas as partes tiveram a oportunidade de mostrar seus argumentos.

A independência da Catalunha seria mais traumática para a Espanha do que a da Escócia para o Reino Unido. Representa 16% da população espanhola e 19% da economia (o dobro do que significa Escócia na Grã-Bretanha). A posição financeira da Espanha é muito precária, e Espanha e Catalunha seriam muito castigadas pelos mercados caso se separassem.

Dessa forma, os catalães poderiam concluir, da mesma forma que os escoceses, que não vale a pena o risco da independência. Entretanto, para convencê-los disso, seria preciso um debate sério. Mas até agora, Rajoy e o governo espanhol recusaram até mesmo um debate sobre a independência. Agora é o momento em que deveriam fazer isso para explicarem a unidade.

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