União no Parlament de Catalunya contra a repressão do governo da Espanha

    Foto por Albert Salamé

    O dia posterior às cinco prisões políticas marcou o caminho pelo qual a maioria parlamentar catalã deve trilhar. A decisão do juiz espanhol Pablo Llarena foi um golpe duríssimo, marcando um antes e um depois nas relações entre Catalunha e Espanha. A cada golpe dado pelo Tribunal e governo espanhóis, os catalães, principalmente aqueles que sofreram na pele a atrocidade da violência policial em 1º de outubro passado, sabem que não há retorno. Somente a independência e a constituição de um Estado próprio serão a garantia de respeito aos valores democráticos. De respeito ao sentimento catalão, de pertencimento a uma terra com uma história e cultura de longa data. O povo catalão disse “basta”, e os partidos independentistas catalães deverão ser os líderes na defesa da democracia e constituição da República da Catalunha. Uma república proclamada, votada em massa, e que ganha mais adeptos – culpa (ou mérito) da atuação selvagem do governo espanhol.

    A sessão parlamentar desse sábado deveria corresponder à segunda rodada de votações, que levariam à investidura de Jordi Turull como novo presidente da Generalitat de Catalunya. Momentos antes da da sessão no Parlament, soube-se das ameaças do governo espanhol contra Roger Torrent, levadas à frente caso houvesse ato de investidura. O presidente do parlamento manteve a reunião, mas não como deveria ter ocorrido, pois o candidato a assumir o cargo presidencial, Jordi Turull, estava preso. O que houve foram discursos dos representantes dos partidos presentes no Parlament:

    • Inés Arrimadas (partido Ciudadanos, a favor a repressão espanhola): “O processo [independentista] foi prejudicial para muitos catalães. Muitos cidadãos estão tristes e indignados por causa da fratura causada por uns políticos que não conseguiram nada, absolutamente nada“. Um dos comentários que mais tiveram destaque – e que provocou algumas risadas entre os demais membros assistentes – foi o seguinte: “O independentismo topou com uma democracia do século XXI“.
    • Sergi Sabrià (partido ERC, a favor da independência catalã): “O dia de ontem, 23 de março, vai durar pra sempre. A dignidade mostrada por nossos companheiros presos lhes acompanhará eternamente“. Em um recado claramente direcionado aos partidos opositores, Sabrià disse: “Algum dia lhes perguntarão: ‘O que vocês faziam enquanto essa monstruosidade acontecia?’. “Chegou a hora de escolher entre o Estado espanhol e a democracia. Nós escolhemos a democracia. Ontem, o governo espanhol não prendeu apenas cinco pessoas, mas cinco milhões de catalães. Hoje, pessoas boas estão presas, outras no exílio, enquanto algumas ainda estão passeando na rua [em referência aos representantes do PP, partido do líder do governo espanhol, Mariano Rajoy, e em minoria no Parlament de Catalunha]. A nossa República mostra todas as suas vergonhas“.
    • Miguel Iceta (partido PSC, que apoiou a decisão de Rajoy de implementar o repressor artigo 155 contra a Catalunha]: “Catalunha está com o coração apertado. A atuação do Estado, as decisões judiciais, o momento político incerto…“. “Os problemas políticos admitem, apenas, soluções políticas“. “O próximo presidente e governo devem saber que não contam com uma maioria social. É preciso pensar em toda a Catalunha, não apenas em uma parte“.
    • Xavier Domènech (partido Catalunya en Comú, neutro): “Cinco pessoas foram presas injustamente, e outra acabou de ir para o exílio. Aqui não existe justiça, apenas a vontade de excluir representantes políticos e sociais da vida pública. Inventaram uma violência para que falem de ‘delito de rebelião’. Precisamos dar uma resposta à altura. Precisamos de inteligência política“.
    • Natàlia Sànchez (partido CUP, independentista): “Confundem a fidelidade à unidade da Espanha com princípios democráticos. A única violência que existiu foi a institucional. A primeira, no dia 1º de outubro“. Natàlia Sànchez exigiu uma frente republicana e democrática: “Enchamos as ruas e esvaziemos as prisões“. “Não passarão. Viva a República“.
    • Quim Torra (partidos Junts per Catalunya, independentista): “Nunca mais nos calaremos. Agora falaremos de nós, e decidimos que já basta. Estamos em uma situação em que o Estado está obcecado por  destruir um povo. Basta“. Quim Torra também comentou sobre o porquê de Quebec e Escócia poderem fazer o que fizeram, e não poder a Catalunha. Além disso, Torra mencionou Albert Rivera (presidente do partido Ciudadanos), cuja mensagem no Twitter, relacionada ao exílio de Marta Rovira (ERC) e ao processo contra os demais líderes independentistas, causou muitas polêmicas (Que o último golpista apague a luz): “É esse o respeito que vocês exigem?“. O discurso de Quim Torra terminou com uma emocionada promessa a Jordi Turull e aos demais presos e exilados: “Não falharemos. Prometemos isso“.

    Roger Torrent: “Um ataque ao coração da democracia”

    O presidente do Parlament de Catalunya foi contundente em seu discurso contra a repressão espanhola: “Como presidente do Parlamento da Catalunha, me dirijo ao povo catalão para denunciar a gravidade da situação política e democrática. Nos últimos tempos, temos visto como direitos fundamentais têm sido progressivamente atacados, como um referendo foi perseguido policialmente, como pessoas que tinham ido votar têm sido reprimidas. Criminalizar ideias políticas legítimas, e considerar que ações políticas próprias de uma democracia são delitos, nada disso é justiça, mas sim repressão. Prender pessoas por suas ideias políticas é acabar com a liberdade ideológica. O que sofremos foi um ataque ao coração da democracia.”

    Roger Torrent, também, lançou uma mensagem direta aos partidos independentistas: “Formem, a partir de agora mesmo, uma frente unitária em defesa da democracia e dos direitos fundamentais. Uma frente transversal, baseada no respeito à pluralidade.”

     

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