Na noite de quarta-feira, o presidente do Parlament de Catalunya, Roger Torrent, convocou a realização de uma sessão parlamentar que empossaria Jordi Turull como novo presidente da Generalitat de Catalunya. Os partidos JuntsxCat e ERC estavam de acordo com a investidura de Turull, exceto a CUP. De acordo com os integrantes da CUP, Turull não teria seu apoio enquanto as propostas apresentadas pelos outros dois partidos independentistas não estivessem alinhados com um projeto republicano. A decisão de abster-se ou não do apoio a Turull ficou para o dia seguinte, em uma reunião realizada duas horas antes da sessão de investidura presidencial. Finalmente, a CUP optou por manter a abstenção, o que afetou, de maneira decisiva, o resultado – já previsto – das votações no Parlamento. Os partidos que não apoiam a independência catalã totalizaram 65 votos, contra os 64 dos partidos independentistas. De acordo com a legislação parlamentar da Catalunha, é obrigatória a realização de uma segunda rodada de votações, que acontecerá neste sábado.
Opiniões sobre o futuro presidencial da Generalitat de Catalunya
O jornal catalão Vilaweb entrevistou alguns professores, historiadores e sociólogos para saber seu ponto de vista sobre o que poderá acontecer em relação ao futuro presidencial da Generalitat de Catalunya. Confiram, a seguir, alguns fragmentos das entrevistas:
Salvador Cardús, sociólogo
“A situação é tão incerta que fazer qualquer tipo de previsão é algo muito arriscado. Estamos em um momento em que as regras do jogo não existem, pode acontecer de tudo. Pessoas podem ser presas sem justificação alguma, podem haver surpresas de última hora… Talvez devêssemos tentar alterar o regulamento, e permitir uma investidura à distância, buscar um confronto com o Estado. Diminuir a vontade de confrontar não serve para nada”.
Hèctor López Bofill, professor
“Caso não haja outra investidura, haverá novas eleições, e os partidos independentistas deverão explicar muito bem ao povo catalão o porquê de termos chegado a este ponto. Estamos em uma situação de emergência nacional, e tudo estará condicionado a decisões judiciais. Não podemos deixar de defender a democracia e os nossos direitos, e temos que seguir denunciando, internacionalmente, os abusos da Espanha. Temos que manter a firmeza contra o regime autoritário, será a partir disso que as mudanças acontecerão”.
Àngels Martínez Castells, ex-deputada da CUP
“É uma situação difícil, e tudo nos leva a crer que haverá novas eleições. Acho que não trabalharam muito bem as estratégias. Vendo a situação, me parece que pouco foi aprendido, e fico mal por isso”.
Cristina Puig, jornalista
“Nunca descartei as eleições, principalmente a partir do dia em que Puigdemont não pôde ser empossado. Infelizmente, o presidente da Generalitat acabará sendo o que Madrid e os juízes determinarem. Sobre o que aconteceu ontem, a CUP foi coerente com seus planos, não me surpreendeu sua abstenção. O que me surpreendeu foi a realização da seção sem prévio acordo com a CUP. Se tudo isso acabar em eleições, poderemos ter muitas surpresas”.
Francesc-Marc Álvaro, jornalista
“Demonstramos uma certa incompetência. Ficou evidente a falta de unidade estratégica e no discurso de parte do bloco independentista. Se os três partidos não chegarem a um acordo de união estratégica, as consequências serão desagradáveis para o movimento independentista. Gostaria que alguém me explicasse o porquê da realização da sessão de posse sem o apoio da CUP.”
David Minoves, presidente do CIEMEN
“Nestes momentos, é necessário que a sociedade civil passe uma mensagem firme aos partidos republicanos. A maioria independentista deve prevalecer. Devem encontrar um jeito de fazer com que essa maioria, com o aval do povo, seja soberana. Será muito negativo se não conseguirem achar a solução. O Estado espanhol ganhará a batalha com suas medidas repressivas e prisões. É preciso lembrar que, no dia 21 de dezembro, o povo votou pela República, e tinha como grande lembrança a votação no Referèndum de 1º de outubro.”
Jaume Sobrequés, historiador
“Se o cenário piorar, o povo catalão deverá atuar com firmeza. Eu denunciaria as atitudes totalitárias e fascistas do governo da Espanha. Mas também gostaria de denunciar a CUP. A decisão de não apoiar a investidura de Turull em umas circunstâncias dramáticas para o futuro da Catalunha é de uma gravidade gigantesca. Propor um candidato que seja do agrado de Madrid seria render-se à vontade do governo Espanhol. O povo catalão já fez muitas concessões. Talvez seja a hora de uma ação firme e consistente, mas pacífica. É preciso uma ação firme para evitar mais humilhações provocadas pela ação fascista dos tribunais espanhóis”.
Dia D para Turull e mais quatro representantes independentistas
Nesta sexta-feira, Jordi Turull, Marta Rovira, Carme Forcadell, Dolors Bassa e Josep Rull comparecerão ao Tribunal Superior da Espanha para julgamento. A ordem de comparecimento foi ditada pelo juiz Pablo Llarena, que lhes informará os delitos pelos quais são acusados. O risco de prisão é alto. Vale lembrar que existe a possibilidade de que Pablo Llarena volte a ativar a euro-ordem de detenção, cujos alvos são os políticos exilados, como Carles Puigdemont (atualmente na Finlândia), Meritxell Serret, Lluís Puig, Toni Comín, Clara Ponsatí e Anna Gabriel. Entretanto, nenhum país que acolheu ao menos um dos exilados esteve disposto a colaborar com o Tribunal Espanhol.