Em prisão preventiva há 15 meses e meio, o presidente da Òmnium Cultural, Jordi Cuixart, foi entrevistado pela última vez antes do início do julgamento aos líderes independentistas catalães. Ele, Jordi Sànchez e mais sete líderes políticos foram enviados, na última sexta-feira, para Madrid. A seguir, o Aqui Catalunha apresenta, em primeira mão para o público brasileiro, um resumo da entrevista organizada pelo programa FAQS, da TV3, a televisão da Catalunha.
Texto relacionado: Jornal da Índia compara independentismo catalão à luta de Gandhi
Cuixart: “Estamos em clara desigualdade de condições”
Durante o julgamento, você voltará a estar na prisão de Soto Real. O que isso significa para você?
Com os demais presos e funcionários da prisão, a relação sempre foi muito boa. O vergonhoso é que nos julguem em Madrid.
Terão condições de se prepararem para o julgamento?
Cada manhã, no início das sessões, os juízes e fiscais terão chegado de suas casas com o chofer oficial, e depois de terem tomado um banho e descansado bem. Nós, porém, teremos chegado após umas horas de viagem [da prisão para o tribunal]. Imagine isso depois de umas semanas e meses de julgamento. Com o uso da prisão preventiva, estamos em clara desigualdade de condições.
Você disse que aproveitará o julgamento para acusar o Estado, e não para se defender. Não teme que essa estratégia te prejudique?
Lembro que tive medo nos dois primeiros meses de prisão. Todos estávamos muito desorientados. A partir do momento em que você se reconhece como um preso político, o medo vai embora. De certa forma, você descobre que o seu destino já não te pertence, e você já faz parte de uma causa coletiva.
Acredita que o Estado espanhol será condenado em Estrasburgo? Não seria tarde demais se isso acontecer?
Não podemos renunciar a nenhum órgão internacional para reivindicarmos o direito à autodeterminação e o respeito aos direitos humanos. O futuro da Catalunha, porém, não pode depender de Estrasburgo. Nossa atitude não pode ser a de ficarmos esperando, mas sim de sermos sempre proativos.
Em outubro, você disse que o julgamento poderia ser um trampolim para a efetivação da República catalã. A sentença condenatória seria a chave?
A resposta do independentismo catalão deve ser serena e unitária, mas contundente. O julgamento e as sentenças são oportunidades que não podem ser desaproveitadas.
A proclamação de independência deveria ter sido defendida?
Nunca exigimos nada, mas que uma coisa fique bem clara: se os políticos dizem que farão uma coisa, devem cumprir. O referendo de 1º de outubro funcionou porque os cidadãos acreditaram nos líderes políticos.
O unilateralismo fracassou? O diálogo com Madrid é a única possibilidade para um referendo acordado?
A desobediência civil é um dos instrumentos mais potentes para melhorar a sociedade e transformá-la, mas devemos estar cientes de suas consequências.
Você diz que é preciso haver novas lideranças, que não é possível governar estando na prisão ou no exílio. Puigdemont e Junqueras deveriam se afastar?
Puigdemont, Junqueras e os demais líderes são um capital político excepcional. Todos são importantes, mas é óbvio que quanto mais lideranças complementares tivermos, melhor.
As discrepâncias entre os independentistas são constantes. Por que é tão difícil haver uma união?
O objetivo da repressão é a nossa divisão. Mas agora que já passaram 15 meses, devemos estar unidos novamente. O referendo só foi possível porque todos deixaram as dinâmicas partidárias de lado.
Você está há mais de um ano na cadeia, mas sempre diz que se sente forte. Como isso é possível?
Todos nos sentimos fortes. A meditação, a cerâmica, e o viver conectado ao presente me fizeram perder o medo. Aprendi que a felicidade depende do autodomínio. Se as estruturas do Estado espanhol não foram capazes de decidir quem seria o presidente da Òmnium, também não poderão fazer nada em relação à minha felicidade e ao futuro da minha família. Agora, são eles que estão com medo. Já não podem me castigar mais, e isso dá uma força descomunal, te deixa livre de qualquer autocensura.