Para entendermos as bases do conflito político entre Catalunha e Espanha, e sabermos quais são os partidos que, atualmente, destacam-se na política catalã, tanto os independentistas quanto os unionistas (os que são contra a independência), não basta ler o noticiário publicado pelo principais jornais catalães e espanhóis. É preciso ir a fundo, conhecer personagens e acontecimentos. A Catalunha política independentista é um fenômeno a ser estudado com um olho no presente, e outro no passado.
O jornal Aqui Catalunha assume a responsabilidade de trazer, em língua portuguesa, as páginas da história dos partidos políticos da Catalunha. A missão de construir esta série é informativa e educativa. E assumindo a responsabilidade de destacar o nome Catalunha no Brasil, este jornal continua a inovar, bebendo do vanguardismo que caracteriza a sociedade catalã, criativa e trabalhadora.
Nesta publicação de estreia, os leitores terão acesso aos primeiros trechos da história da organização política independentista mais antiga na Catalunha ainda em atividade: Esquerra Republicana de Catalunya, mais conhecida pela sigla ERC. Vocês conhecerão, neste texto, o contexto histórico que favoreceu o nascimento do partido, e seus primeiros princípios políticos.
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Um período de revoluções sociais, econômicas e políticas
Ao longo de todo o século XIX, a Catalunha viveu uma sequência de transformações socioeconômicas que, como consequência da Revolução Industrial, provocaram uma profunda mudança nas bases de sua economia, até então agrária. Esse fato propiciou o nascimento dos primeiros movimentos sociais progressistas e federalistas, de raízes profundamente democráticas e republicanas, diretamente relacionadas às novas inquietações e ideias que se espalhavam pela Europa.
Ao mesmo tempo, a Renaixença cultural e literária catalã do início do século XIX, que coincidia com o Rissorgimento italiano, o nascimento da Grécia moderna, e a independência da Bélgica, ativa o processo de despertar nacional, que tem como culminância um Congresso Republicano Federalista (em 1883), organizado por Valentí Almirall (quem, quatro anos antes, fundou o Diari Català, em que defendia a soberania construída desde a base – o povo – como elemento fundamental para a construção do Estado catalão independente), e a redação das Bases de Manresa (em 1892), um documento que defendia um catalanismo conservador, e indicava o papel que a Catalunha deveria ter na vida espanhola. Esses foram os dois primeiros movimentos políticos com argumentos nacionais.
A partir desses dois movimentos sociopolíticos na Catalunha, surge, em 1931, a organização política Esquerra Republicana de Catalunya, a soma da união de grupos de esquerda que viam a necessidade de confrontar um Estado espanhol considerado retrógrado, apoiado em estruturas arcaicas, e incapaz de responder às novas necessidades e inquietações de uma grande parte de seus habitantes.
Fundação de Esquerra Republicana de Catalunya (ERC)
Entre os dias 17 e 19 de março de 1931, foi organizado, no bairro de Sants (distrito de Sants-Montjuïc, Barcelona), a Conferència d’Esquerres (Conferência de Esquerdas). Desse evento que foi fundado o partido Esquerra Republicana de Catalunya (ERC), formado por três grandes grupos: a organização política Estat Catalá (fundado por Francesc Macià, o primeiro presidente do ERC), Partit Republicà Català (cujo um dos representantes principais foi Lluís Companys), e o grupo L’Opinió (um semanário criado em 1928, dirigido por Joan Lluhí).
ERC foi fundado com os seguintes princípios:
- reconhecimento da personalidade nacional da Catalunha
- defesa dos direitos dos cidadãos e da socialização da riqueza
- programa social baseado na liberdade sindical, direito à greve, defesa do salário mínimo, jornada de trabalho de no máximo 8 horas, férias obrigatórias, seguro e aposentadoria.
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