Existem muitos laços entre a Catalunha e o Brasil: futebolísticos, culinários, literários… Um desses elos é o livro Terres Verges (em português, Terras Virgens), do escritor catalão Enric Larreula. Nascido em 1941, Larreula nos faz a seguinte pergunta: “É possível uma Nova Catalunha no outro lado do mundo?“. Nesta sinopse, o leitor brasileiro vai conhecer um pouco mais sobre os difíceis anos vividos pela língua, cultura e política catalãs (década de 20, sob a ditadura de Primo de Rivera; décadas de 40, 50 e 60, sob a ditadura de Francisco Franco). O livro, entretanto, também aborda temas sobre destruição de culturas nativas na América, relação entre diversos grupos sociais do Brasil à época, e opressão social.
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Estruturação de Terres Verges: chegada ao Brasil
Um jovem estudante de Ciências da Informação, de Barcelona, encontra cinco cadernos antigos com anotações pessoais feitas por seu avô entre 1923 e 1936. Nas anotações do primeiro caderno, escritas entre 1923 e 1924, é explicada, por meio de palavras de uma criança, a chegada de uma família de anarquistas catalães ao Brasil, que tinham a intenção de criar na selva uma sociedade livre chamada Nova Catalunya, onde não haveria opressão por motivos de classe, e onde os catalães não dependeriam do Estado espanhol.
O segundo caderno começa a ser escrito em 1934, quando o garoto, então, já era um jovem. A morte de sua mãe lhe serve para explicar o processo de assentamento da família no Brasil, bem como a compra da fazenda onde fundariam a Nova Catalunya, no Estado do Paraná. No terceiro caderno, escrito entre setembro e dezembro de 1934, aquele garoto nos explica as primeiras contradições entre o ideal e o real: a chegada de trabalhadores brasileiros, a difícil relação por causa do ciúme entre o pai e um anarquista catalão que se incorpora ao projeto.
No quarto caderno, escrito entre dezembro de 1934 e maio de 1935, a narração, feita no tempo presente, nos mostra a sensação de fracasso que toma conta dos anarquistas. Além disso, é narrado um dos momentos mais cruciais da história: o contato com os índios do Brasil. A relação entre os anarquistas catalães e os índios começa muito bem, mas a chegada dos garimpeiros – caçadores de ouro sem escrúpulo algum -, detona a situação, já que começam a usar os índios – depois de embebedá-los – para a busca de ouro.
O retorno para a Catalunha
No quinto caderno, escrito entre maio de 1935 e julho de 1936, a sequência de fatos começa a acelerar. Os garimpeiros, supostamente às ordens do fazendeiro mais poderoso da região, querem exterminar os índios. Apesar da ajuda que os anarquistas catalães pedem às autoridades, a polícia local não demonstra nenhum interesse em socorrer os índios. Muito pelo contrário. Todos esses acontecimentos fizeram o pai e os tios do narrador tomar a decisão de voltar para a Catalunha, onde as forças da esquerda e nacionalistas governam a Generalitat. Depois de vender as terras, voltam de navio para Barcelona, onde chegam em 19 de julho de 1936, justamente o momento quando produz-se uma reação militar contra a República catalã.
No epílogo, aquele jovem estudante de Ciências da Informação nos explica como acabou a vida daqueles anarquistas catalães: foram uma de muitas famílias catalãs que perderam a guerra, tanto do ponto de vista social como nacional.