A tensão está muito elevada na Catalunha e não menos em Madrid. Neste triste final de domingo, fui ver as ruas de Barcelona com suas manifestações multitudinárias convocadas em cima da hora, depois da prisão ao meio dia de Puigdemont numa fronteira da Alemanha. Ontem já presenciara a massa protestando contra a prisão de Jordi turull.
Nessas horas, é sempre bom se orientar pelos mais conservadores, aqueles que jamais atirarão uma pedra em vitrine alheia. Assim, ao chegar em casa, fui buscar na leitura o que dizia Enric Juliana, um conservador e editorialista mais importante do La Vanguardia, o segundo jornal mais lido da Espanha e não por acaso catalão. E lá estava ele relembrando a sabedoria do já ancião Felipe González, o político andaluz quatro vezes primeiro ministro espanhol, que na quinta-feira à noite, proferiu o seguinte: “Espero que o juiz Llarena não se lhe ocorra de meter a Turull na cadeia. Oxalá não se lhe ocorra meter na cadeia a nenhum deles. Já sei que nado a contracorrente, porque ao independentismo não há que destrui-lo, senão ganha-lo (com argumentos políticos)”.
González alegava ainda naquela noite que os jovens que se apresentam como possíveis mandatários daqui há um ou dois anos no máximo querem apresentar nas “praças maiores” de toda a Espanha a cabeça dos independentistas. Referia-se a Albert Rivera (do partido Ciudadanos) e Pedro Sanchez, secretário geral de seu próprio partido, que andam surfando nessa onda contra Catalunha, “outro erro tremendo”, afirmava. Alertava Felipe González que quando os juízes começam a tomar decisões políticas, isso se chama “Governo dos juízes”. Essa opinião González manifestou antes de saber o que Llarena iria decidir na sexta-feira. Mas Enric Juliana evocou González para tentar chamar à razão através dos conselhos dos mais centrados e até idosos, e diz que está ainda mais desassossegado com as declarações do arcebispo de Tarragona, Jaume Pujol, ultraconservador e membro do Opus Dei: “As prisões fazem com que seja muito difícil um futuro de convivência”. Outros líderes religiosos como o abade de Montserrat, Josep Maria Soler, também foram na mesma linha.
Mariano Rajoy bem que queria outra coisa, começou a semana buscando apaziguamento, e Turull nada mais fez que seguir no mesmo tom ao fazer um discurso moderadíssimo na assembleia de investidura, acenando para o governo central todas as possibilidades de convivência pacífica. Mas a estas alturas o Partido Popular já havia entregue à justiça o comando político, e hoje, o juiz Pablo Llarena se converteu no principal protagonista da política espanhola. Tarde demais e tomara que a violência não tome as rédeas da ala pacifica e majoritária do independentismo. Hoje, uma associação da juventude catalã pichou uma casa de campo que Llarena tem na Catalunha. E como sabemos, os jovens são inconsequentes, mas quando os adultos são incompetentes, eles tomam a frente e só deus sabe o que poderá acontecer daqui para frente.
_ Texto de Manoel Lucas, correspondente do Aqui Catalunha em Barcelona