Madrid, tomada por 120 mil vozes a favor da autodeterminação catalã

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O dia 16 de março de 2019 será lembrado como o dia em que Madrid foi tomada por 120 mil vozes a favor da autodeterminação catalã. Após duas massivas manifestações na Catalunha, o independentismo catalão voltou a mostrar sua força e sua transversalidade. E, mais uma vez, de forma civilizada.

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Medidas de segurança, contramanifestação e detenção

Madrid, tomada por 120 mil vozes a favor da autodeterminação catalã - contra-manifestação
Contramanifestação do grupo Falange Española Digital

Mais de 500 ônibus e 15 trens levaram os manifestantes à capital espanhola. A maioria, como não poderia ser diferente, saiu da Catalunha. No percurso, alguns ônibus foram parados por agentes da Guarda Civil, mas logo foram liberados. O governo espanhol incumbiu 500 agentes policiais (300 da polícia de choque e 200 de outras unidades) de garantir a ordem na manifestação. De acordo com o Ministério do Interior, havia certa preocupação pela presença de grupos da esquerda espanhola, e pela convocação de um grupo da extrema-direita espanhola, que se concentraria próximo à manifestação independentista. De fato, um pequeno grupo de simpatizantes da Falange Espanhola Digital organizou uma contramanifestação. Carregavam uma faixa com a mensagem Matar Espanha tem um preço”, e os rostos de todos os líderes independentistas catalães presos.

No começo da tarde, a polícia espanhola deteve um dos membros do secretariado nacional ANC (Assembleia Nacional Catalão), em Madrid. Segundo as informações locais, Jordi Alemany era procurado por não comparecer, em 7 de março, ao juizado de instrução de Girona. Jordi havia sido convocado pelo juizado por haver retirado uma bandeira espanhola da delegação da Generalitat de Catalunya na cidade de Girona, no primeiro aniversário do referendo de 1º de outubro.

Mais detalhes sobre a manifestação

Madrid, tomada por 120 mil vozes a favor da autodeterminação catalã - Fairy - Aqui Catalunha
Manifestantes se disfarçam de garrafas de Fairy, ironizando discurso de Enric Millo sobre os acontecimentos de 1º de outubro de 2017

Em entrevista aos meios de comunicação durante a manhã, Elisenda Paluzie, presidente da ANC, disse que “a manifestação seria um êxito”, e se mostrou satisfeita “pelo apoio de diversos grupos espanhóis”. Marcel Mauri, vice-presidente da Òmnium Cultural, afirmou, por sua vez, que a manifestação em Madrid “era um grito de alerta e um apelo a todos os democratas do Estado espanhol sobre a vulneração de direitos fundamentais, a repressão e a injustiça no Tribunal Supremo”.

A manifestação teve alguns momentos de humor. Um deles fazia referência à declaração de Enric Millo, uma das testemunhas que compareceram ao Tribunal Supremo na semana passada. Millo, ex-delegado do governo espanhol em Madrid, alegou que, durante o referendo de 1º de outubro de 2017, eleitores jogaram Fairy (um detergente) no chão, para que os policiais que entrassem nos colégios eleitorais escorregassem, e tivessem suas cabeças pontapeadas pelos eleitores. A declaração de Millo gerou forte repercussão na Catalunha e no Estado espanhol. Rapidamente, milhares de internautas publicavam “memes” com imagens de Fairy. Nesse sábado, alguns manifestantes se travestiram de garrafas de Fairy, e em alguns trechos do caminho da manifestação, podia-se ver algumas garrafas do produto. Vale lembrar que Enric Millo, durante seu comparecimento ao Tribunal, também distorceu os acontecimentos do dia 20 de setembro de 2017, e logo teve sua declaração desmentida por Gerard Piqué, zagueiro do FC Barcelona.

A repercussão da manifestação

Às 18h, a Plaza de Cibeles foi o ponto de chegada e auge da manifestação em defesa da autodeterminação catalã. Diversos membros ligados à organização do evento fizeram discursos, e defenderam que “a autodeterminação não é delito”:

Patrícia López, jornalista

“A autodeterminação não é delito, e a única violência exercida em 1º de outubro foi a dos agentes policiais”.

Elisenda Paluzie, presidente da ANC

“Viemos aqui dizer, bem alto e claramente, que este julgamento é uma vergonha democrática. Devemos sair deste círculo vicioso, e voltar a reivindicar que todos os povos têm o direito à autodeterminação, que é um instrumento de paz”.

“A República Catalã não é contra ninguém. É uma oportunidade de ter relações de igualdade, normais entre povos irmãos”.

Marcel Mauri, vice-presidente da Òmnium Cultural

“Não viemos provocar ninguém. Viemos defender os direitos fundamentais, a democracia, o diálogo e o respeito”.

“Somos os netos de quem combateu o franquismo, e não abaixou a cabeça”.

“Os democratas deveriam ter vergonha de que um partido da extrema-direita esteja marcando a agenda política da Espanha”.

“Neste julgamento, todos estamos sendo julgados. Defender a democracia na Catalunha é defender a democracia na Espanha”.

“Oitenta anos depois, voltamos a Madrid para dizer “Não passarão”.

“Nenhum movimento social pode ser perseguido por exercer os direitos fundamentais. Assumimos a desobediência civil como forma de protesto”. – palavras escritas por Jordi Cuixart (um dos líderes civis julgados) e lidas por Marcel Mauri.

Jaime Pastor, em nome das entidades madrilenhas presentes na manifestação

“O Estado espanhol promete apenas repressão para a Catalunha. Queremos denunciar o julgamento político contra o independentismo”.

“A monarquia não é neutra. É um regime em profunda crise”.

“A Catalunha desobedeceu leis injustas. A história se construiu a partir do desafio”.

ABC, às 18h37: “Manifestantes a conta-gotas na passeata independentista de Madrid”

ABC, às 19h25: “O secessionismo pressiona o Supremo nas ruas de Madrid”

El Español: “Torra (presidente da Catalunha) já está em Madrid e anima os separatistas: “Sempre adiante contra o “Estado opressor”” / “Rivera critica que ‘os golpistas marchem por Madrid, e Sánchez (líder do governo espanhol) se cale”

ElDiario.es: “Começa a manifestação em Madrid contra o julgamento ao processo e pela liberdade dos líderes independentistas”

Libertad Digital: “Estrondoso fracasso de assistência na excursão separatista em Madrid” – Esse portal se baseia nos números divulgados pelo governo espanhol sobre o número de presentes na manifestação. Para o governo, apenas 18 mil manifestantes participaram.

El Español: “Torra lidera em Madrid 18 mil separatistas ao grito de “este julgamento é uma farsa””

El País: “O independentismo protesta em Madrid contra o julgamento do “procés”” – A prévia da notícia, porém, era um claro ataque irresponsável à manifestação: “A paralisia da Generalitat, sem orçamento nem planos a curto prazo, se disfarçou nas ruas de dinamismo e vigor”.

Para quem quiser assistir, este é o vídeo da transmissão do evento:

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