Mais uma vez, o jornal norte-americano The New York Times oferece um destaque à atualidade política na Catalunha, mais especificamente, dessa vez, aos líderes independentistas catalães presos, considerados “uma dor de cabeça para a Espanha”. Na reportagem publicada nessa terça-feira, Jordi Cuixart, presidente da Òmnium Cultural, é apresentado como “um líder independentista catalão condenado a nove anos de prisão por seu envolvimento na tentativa falha de independência da Catalunha”.
Um criminoso ou um mártir? Um dilema político para a Espanha
A matéria do jornal expõe os dois lados do debate: Jordi Cuixart seria um criminoso ou um mártir? Conforme o texto, “para as autoridades espanholas, Cuixart é um criminoso perigoso, acusado de sedição por liderar uma manifestação quando ele e outros líderes independentistas estavam organizando uma ruptura na Catalunha”. Por outro lado, destaca que “para seus apoiadores e aos olhos de muitos outros países, Cuixart é um preso político em pleno coração da Europa“.
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Para a publicação do texto, o The New York Times colheu opiniões dos dois lados, tanto de quem é a favor da prisão de Jordi Cuixart, quanto de quem é contra. Vale a pena lembrar que Cuixart, bem como Jordi Sànchez (ex-presidente da organização civil independentista ANC) e outros líderes políticos, foram condenados, em outubro de 2019 e no total, a cem anos de prisão.
Para a atual Ministra de Relações Exteriores do governo espanhol, Arancha González Laya, o caso de Cuixart e demais líderes catalães “trouxe memórias dolorosas para a Espanha de outros movimentos independentistas, incluindo os assassinatos provocados pelo ETA”. Assim, Laya afirma que eles “quebraram a Lei”.
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O professor de Direito Internacional em Barcelona, David Bondia, cita o fato de que o governo espanhol “estava considerando uma revisão que poderia enfraquecer suas leis sobre sedição”, e isso, para o acadêmico, seria “admitir que houve um erro ao prender os líderes independentistas“. O professor também afirma que o caso de Cuixart, sob o ponto de vista legal, é “ainda mais problemático”, já que Cuixart era presidente de uma entidade cultural, mas foi julgado sob os mesmos parâmetros legais reservados aos políticos.
Para Carles Puigdemont, responsável pela convocação oficial do referendo de autodeterminação, a situação “relembra os tempos da ditadura de Francisco Franco, quando os dissidentes políticos eram perseguidos”.
Já para Jordi Cañas, representante espanhol no Parlamento Europeu, “nenhum dos líderes civis e políticos catalães condenados merece perdão”, já que “racharam a sociedade”, e “dividiram os lares”. Cañas diz que “deixou de falar com algumas pessoas por causa do conflito”.
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Sobre Jordi Cuixart e a Òmnium Cultural
Além da atual situação política, The New York Times apresenta informações sobre o passado de Jordi Cuixart e a entidade que preside. A publicação explica que, em 1961, um grupo de empresários fundou a Òmnium Cultural para promover a língua catalã. Eram tempos de perseguição ferrenha contra a publicação e divulgação de conteúdos que estivessem nessa língua. Assim, o ditador espanhol ordenou o fechamento da Òmnium Cultural, que passou a atuar na clandestinidade.
Durante a entrevista à equipe do The New York Times, que visitou a prisão de Lledoners, além da sede da Òmnium Cultural, Jordi Cuixart citou uma prática muito comum da ditadura espanhola. Como o registro de nomes em catalão de recém-nascidos era proibido, Cuixart foi registrado com a versão espanhola “Jorge”, e não como “Jordi”.
Em relação à Òmnium Cultural, o jornal destaca o seu “papel-chave” na cultura catalã. Entre os feitos da entidade, estiveram o relançamento da Nit de Sant Llúcia, um dos festivais literários mais importantes na Catalunha, e que havia sido proibido pela ditadura espanhola. Além disso, a Òmnium Cultural foi a responsável pela criação do Premi Sant Jordi, outorgado à melhor novela escrita em catalão.