“A verdadeira defesa da presunção de inocência não é feita quando te afeta, mas sim a um adversário político. Que se investigue tudo o que precise ser investigado. Quanto mais informação, menos boatos”. Desta forma, o secretário-geral da Junts, Jordi Turull, valorizou a divulgação dos conteúdos do relatório da Unidade Central Operativa (UCO) da Guarda Civil sobre a suposta participação do secretário de organização do PSOE, Santos Cerdán, na adjudicação ilegal de obras em troca de comissões com o ex-ministro José Luis Ábalos e o ex-assessor Koldo García. Cerdán foi o principal interlocutor de Turull nas negociações com os socialistas espanhóis que tornaram possível a investidura de Sánchez e que se articularam de forma estável na mesa da Suíça, sendo um dos dirigentes que mais contribuiu para a complicada relação entre os dois partidos. Turull destacou que os dirigentes da Junts foram “vítimas de condenações midiáticas e judiciais” e sabem o quão importante é defender a presunção de inocência. Também se mostrou convencido de que Cerdán dará todas as explicações sobre o relatório da UCO.
No entanto, as últimas informações e o pedido do Tribunal Supremo para que Cerdán deponha voluntariamente não fizeram a Junts reconsiderar sua posição contrária a participar em uma hipotética moção de censura liderada pelo PP. “É uma fantasia”, disse a esse respeito, especialmente após os movimentos de Alberto Núñez Feijóo para minar a necessária unanimidade europeia para o reconhecimento da oficialidade do catalão nas instituições comunitárias. A Junts mantém que se pedir antecipação eleitoral será porque as negociações na Suíça fracassarem. “A solicitação de eleições será feita com base nisso, não em nos inclinarmos para um lado ou outro da batalha campal”, reafirmou Turull, em relação ao clima de confrontação vivido em Madrid.
Precisamente hoje, a Junts fez um balanço sobre a aplicação da lei de anistia, o principal acordo pelo qual investiram em Sánchez. Turull insistiu na necessidade de o presidente espanhol se reunir com Carles Puigdemont em aplicação de uma anistia política, levando em consideração a oposição da cúpula judicial em aplicar a lei. A Junts insiste que não busca “uma fotografia”, mas sim o reconhecimento de Puigdemont como interlocutor político válido, frente a frente com Sánchez, indo além de terceiras pessoas. Seria uma constatação da “normalidade entre dois lideranças políticas”, que veem de forma diferente a normalidade política defendida por Illa. Para a Junts, o conflito político persiste e um encontro entre Sánchez e Puigdemont faria sentido, pois poderia contribuir para encontrar uma solução. Aguardando a decisão do Tribunal Constitucional sobre a lei de anistia, a partir do debate do recurso contrário apresentado pelo PP, Turull alertou o PSOE de que, se a anistia jurídica chegar antes da política, “não terá nenhum valor”. “Talvez seja tarde quando quiser fazê-lo”, afirmou.
Turull também destacou que esse encontro entre Sánchez e Puigdemont poderia servir para constatar o acordo ou a impossibilidade de pacto entre os dois partidos. No entanto, a Junts reforçou o pedido ao PSOE em um momento especialmente complicado para Sánchez e seu entorno, acuado em diferentes causas judiciais que apontam indiretamente para o presidente do governo espanhol e que o PP utiliza para tentar derrubar o governo. O partido de Puigdemont tenta manter sua agenda apesar das turbulências de Madrid e deu prazo ao PSOE para cumprir com os pactos acordados, mesmo que seja feita a espera com a anistia política, a tramitação da lei de delegação de competências em imigração ou o reconhecimento da oficialidade do catalão na Europa.
Turull insistiu que o PSOE endossou a lei de anistia graças ao acordo de Bruxelas para a investidura, embora inicialmente não quisesse levá-la adiante, e enfatizou que, se não for aplicada em todos os casos, é porque “houve um golpe de estado liderado pelos juízes do Tribunal Supremo”. Turull censurou o “fanatismo político” e a vontade de agir como “justiceiros” dos juízes Manuel Marchena e Pablo Llarena e alertou que não vão parar até conseguir a aplicação total da lei e o retorno dos exilados. Dependendo da decisão do Constitucional e dos pronunciamentos dos tribunais europeus, ele apontou que poderiam tomar medidas legais contra os juízes por prevaricação.
*Este texto é uma tradução do artigo original publicado em Vilaweb, utilizado para fins informativos.*