Espanha acusa o movimento independentista catalão de ser “terrorista”

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A pouco mais de quinze dias para o anúncio da sentença contra os líderes independentistas catalães, a Audiência Nacional espanhola ordenou a detenção de nove membros do grupo independentista CDR (Comitê de Defesa da República). De acordo com um comunicado publicado pelo Ministério do Interior, “os detidos estavam preparando ações violentas” como resposta às sentenças contra os líderes políticos e civis catalães, julgados entre 12 de fevereiro e 12 de junho deste ano. A conclusão dos integrantes da Guarda Civil – foram enviados 500 deles à Catalunha para a operação – é que os membros do grupo independentista “guardavam, em grande quantidade, materiais e substâncias que serviriam [à espera de confirmação de especialistas] para produzir explosivos”. A Audiência Nacional espanhola se referiu aos cidadãos detidos como integrantes de “grupo terrorista de índole separatista catalão”, sendo, portanto, investigados por “rebelião, terrorismo e posse de explosivos”. Durante a tarde, a Guarda Civil espanhola anunciou a transferência dos nove membros do CDR para Madrid. Sete deles já estão na capital da Espanha, onde serão interrogados entre quarta e quinta-feira. Os demais acusados foram liberados durante a tarde.

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A operação policial teve início ainda durante a madrugada, às 5h, e teve como foco de ação as comarcas de Vallès Occidental (mais especificamente Sabadell, Mollet del Vallès, Cerdanyola del Vallès, Santa Perpètua de Mogoda e Sant Fost de Campsentelles) e Osona (especificamente no município de Gurb). Segundo o corpo policial, foram encontrados, durante a revista, “anotações com componentes necessários para a elaboração de explosivos Goma-2”. Em relação aos materiais e substâncias que, de acordo com a Guarda Civil, seriam “suscetíveis de serem utilizadas na fabricação de artefatos explosivos”, os responsáveis pela operação afirmam que foram encontrados “termita, óxido de ferro e nitrato de amônia”. Além disso, teriam sido encontrados “mapas de instituições públicas espanholas”, com ilustrações de um quartel da Guarda Civil e um edifício oficial do governo.

Imagens dos elementos reunidos pela Guardia Civil. Provas
Imagens dos elementos reunidos pela Guarda Civil. Provas?

Pouco depois do recolhimento de materiais, a Guarda Civil espanhola publicou um vídeo com as supostas provas dos “planos terroristas” dos nove cidadãos independentistas detidos. Na publicação [assista ao vídeo], em que não é revelada localização do espaço onde são vistos os materiais apreendidos, policiais entram fortemente armados, e mostram sacolas – com conteúdo não identificado -, uma panela enferrujada e alguns recipientes semelhantes a leiteiras de plástico com medidores. Esses foram os elementos apresentados como “provas” pelos policiais e pelo Ministério do Interior espanhol.

Em várias regiões da Catalunha, foram convocadas mobilizações contra as detenções, consideradas como “arbitrárias” pelos manifestantes e líderes de entidades políticas e civis catalãs. Os vídeos e imagens das manifestações de protesto podem ser vistos no portal de notícias catalão Vilaweb.

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Opiniões públicas sobre as detenções

As detenções dos nove membros do grupo independentista catalão CDR provocaram, imediatamente, uma grande reação por parte das lideranças políticas e judiciais da Catalunha e da Espanha. Acompanhe, a seguir, a seleção que o Aqui Catalunha fez dos dois lados, tanto de quem repudia quanto de quem apoia a ação policial.

Promotoria da Audiência Nacional

Em nota de imprensa, a Promotoria da Audiência Nacional qualifica a detenção dos nove cidadãos independentistas como uma ação de “neutralização de ação de grupo terrorista de índole separatista catalão”, título do comunicado. Na mensagem, assinada pelo fiscal Miguel Ángel Carballo Cuervo (em breve, publicaremos um texto sobre seu papel em anteriores repressões ao independentismo catalão), afirma-se que “não está descartada a realização de mais detenções”, e que “existe a certeza de que as ações planejadas seriam concretizadas durante o período entre o segundo aniversário do referendo de autodeterminação” – caracterizado, na nota, como “ilegal” -, “e o anúncio da sentença do julgamento do ‘procés’ (o processo independentista)”. Segundo o comunicado, “decidiu-se proceder à detenção dos implicados para abortar o projeto que poderia ter causado danos irreparáveis”.

Carles Puigdemont

No Twitter, o ex-presidente da Catalunha e exilado político, Carles Puigdemont, manifestou seu repúdio às ações organizadas pela Guarda Civil assim: “Primeiro detêm, e depois buscam provas que são insustentáveis”. O líder catalão critica a “criação de relato de violência” para a “criminalização do independentismo”, e ironiza o conceito de “democracia espanhola”. A mensagem de Puigdemont citou uma publicação do deputado Jaume Asens, quem relembrou as detenções de outros dois ativistas independentistas, também ligados aos CDRs, em 2018: “É uma irresponsabilidade equiparar os CDRs ao terrorismo. E uma banalização que ofende as vítimas do terrorismo. Operações policiais que estigmatizam e causam tensão social, como vimos no caso de Adrià e Tamara Carrasco”. Vale a pena dizer que Adrià, atualmente, está exilado na Bélgica. Por outro lado, Tamara, por ordem judicial, ficou confinada em sua cidade, Viladecans, por um ano e um mês.

Albert Rivera

O presidente do partido Ciudadanos e deputado no Congresso espanhol, Albert Rivera, perguntou no Twitter se “alguém pensa que Quim Torra [atual presidente da Catalunha] daria ordens aos Mossos [a polícia catalã] para investigar seus amigos e familiares dos comandos separatistas”. Rivera aproveitou a ocasião para parabenizar a atuação da Guarda Civil “contra radicais separatistas”.

Quim Torra

O atual presidente da Catalunha também utilizou as redes sociais para criticar as detenções: “A repressão continua sendo a única resposta do Estado espanhol. Estão tentando voltar a construir um relato de violência antes das sentenças. Não vão conseguir. O movimento independentista é e sempre será pacífico”.

Em declarações na véspera da Diada Nacional de Catalunya, Quim Torra convocou os cidadãos da Catalunha “ao exercício do direito à autodeterminação”. Em novembro, e não mais nos dias 25 e 26 de setembro, o presidente será julgado por “desobediência”, e poderá ser inabilitado.

Lorena Roldán

A porta-voz do partido Ciudadanos, Lorena Roldán, não economizou em suas críticas a Quim Torra: “Quero citar as palavras do senhor Torra, do presidente da Generalitat, dirigindo-se a esses comandos radicais separatistas e dizendo-lhes ‘pressionem, pressionem’. Agora já sabemos a que se referia o senhor Torra com isso de ‘pressionar’. O que era? Pressionar o detonador? Era isso que queria dizer o senhor Torra com ‘pressionem’? Pressionar o detonador dos explosivos?”. Além disso, e seguindo a linha adotada por Albert Rivera, Roldán afirmou que “os amigos e familiares do presidente da Catalunha fazem parte dos comandos separatistas”.

Laura Borràs

A porta-voz do partido Junts per Catalunya no Congresso espanhol, Laura Borràs, exigiu explicações ao governo espanhol, mais especificamente a Fernando Grande-Marlaska [Ministro do Interior] pela operação levada a cabo na manhã dessa segunda-feira: “Primeiro detêm, e depois investigam? Queremos explicações!”.

Alejandro Fernández

Mensagem apagada por Alejando Fernández no Twitter
Mensagem apagada por Alejando Fernández no Twitter

O líder do Partido Popular na Catalunha, Alejandro Fernández, foi um dos primeiros a manifestar seu apoio às detenções, e afirmou contundentemente, repetindo ao final da mensagem: “Tinham [os detidos] bombas preparadas”. No entanto, ele apagou sua publicação, registrada a tempo por alguns meios de comunicação. Fernández equiparou o movimento independentista catalão ao Movimento de Libertação Nacional Basco, e usou o termo batasunitzación [em referência ao já ilegalizado, na Espanha, partido político independentista basco chamado Batasuna]. Para mais informações sobre o tema, recomendamos a leitura do artigo publicado nessa mesma segunda-feira pelo jornalista Raphael Tsavkko: Comitês de Defesa da República: se a ETA não existe mais, a Espanha fabrica um novo inimigo.

Mais de Raphael Tsavkko: O comportamento diplomático espanhol e o nacionalismo catalão

Irídia – Centro de Defesa de Direitos Humanos

A entidade expressou, no Twitter, sua preocupação em relação as revistas e detenções executadas pela Guarda Civil espanhola na Catalunha. E o fez à luz da semântica carregada pelo uso do modo condicional de futuro: “Mostramos nossa preocupação por uma operação em que se fala ‘Poderiam estar preparados para concretizar ações violentas’. O uso do modo condicional de futuro, em direito penal, é muito perigoso”.

Pablo Casado

O presidente do Partido Popular espanhol, Pablo Casado, também expressou seu “reconhecimento” ao serviço prestado pela Guarda Civil. O político, no entanto, não empregou o modo condicional de futuro para falar dos nove detidos: “Meu reconhecimento à Guarda Civil por essa operação na Catalunha contra os CDRs que planejavam ações terroristas. A fortaleza do Estado de Direito prevalece sempre a favor da paz e da convivência que queremos no conjunto dos espanhóis”.

Rede Jurídica de Advogados

A Red Jurídica, uma cooperativa de advogados com sede em Madrid, divulgou um comunicado no Twitter para expressar suas dúvidas em relação à ação da Guardia Civil: “Esperamos que tenham agido com base em alguma prova, e que não estejam buscando todas agora. Além disso, seria preciso saber o motivo de informar sobre a operação antiterrorista ao vivo, e não depois.

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