Fundado em março deste ano, o Catalonia Global Institute é o novo centro catalão de análise geopolítica e, entre os seus objetivos, está o de “dotar a sociedade catalã de pensamento próprio sobre a política global”. De acordo com a apresentação da entidade, “a Catalunha deve definir seus interesses nacionais de acordo com sua idiossincrasia, valores e aspirações próprias, já que “o sistema internacional é regido pelos interesses dos Estados”.
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Projeção dos interesses da Catalunha em escala global
A entidade, presidida por Abel Riu, é formada por membros de diferentes vias ideológicas, mas que, em comum, entendem a importância de “relações internacionais assentadas em concepções realistas”. Nesse sentido, o Catalonia Global Institute defende que a sociedade catalã e suas instituições terão mais chances de aumentar sua projeção e “defender seus interesses em escala global” se adotarem uma “nova visão” sobre o posicionamento da Catalunha no mundo e sobre como a Catalunha pode contribuir globalmente.
O manifesto do Catalonia Global Institute
O papel deste novo ‘think tank‘ pode ser melhor entendido por meio de seu manifesto, dividido em três partes: Preâmbulo, Problema e Ação:
Preâmbulo
De acordo com o CGI, a Catalunha não dispõe de praticamente nenhuma entidade ou espaço que, do ponto de vista analítico, tenha se adaptado ao contexto de mudança de paradigma global. Essa mudança, conforme o manifesto expõe, é representada pelo fim da hegemonia ocidental e a consolidação de uma ordem internacional multipolar.
A ausência desse tipo de análise causam uma “falta de compreensão” por parte dos cidadãos, instituições e tecido produtivo catalães em relação às “incertezas produzidas pela nova realidade do sistema internacional”. De modo mais específico e crítico, o preâmbulo explica que a Catalunha sofreu uma certa “perda de credibilidade no exterior” desde as expectativas geradas em âmbito internacional sobre o referendo de 1º de outubro de 2017, especialmente aos “erros políticos” posteriores.
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Problema
Os fundadores do centro de análise geopolítica fazem uma crítica a como as relações internacionais são tratadas na Catalunha. Assim, a “ausência de entidades, instituições e espaços suficientemente capazes de analisar e interpretar o mundo a partir de uma perspectiva realista” faz com que essas relações tratadas na Catalunha “nem se adequem às realidades do mundo, nem às necessidades catalãs”. Dessa forma, é necessário, de acordo com o CGI, é necessário que haja um foco “nos interesses e nas disputas de poder que impulsionam o cenário internacional”.
Ação
O Catalonia Global Institute propõe uma “geração de ideias mais adequadas aos tempos atuais e, também, a ampliação das margens analíticas e do debate público”. Assim, o CGI se propõe a “dotar a Catalunha de ferramentas úteis tanto para administrações públicas quanto privadas”, a fim de que possam “navegar em um contexto global instável”, e tenham condições de performar ações “que atendam aos interesses nacionais da Catalunha”.
Para que isso seja possível, o CGI propõe que:
- haja uma entidade que proponha uma visão das relações internacionais baseadas nos interesses dos seus atores. Oportunidades políticas, econômicas e geoestratégicas que melhorem e potenciem o perfil e a posição internacional da Catalunha.
- haja uma entidade que trabalhe para recuperar a credibilidade da Catalunha como sujeito político que aspira à plena soberania. O CGI defende que a Catalunha tenha relações internacionais baseadas no realismo, e que, apesar de seu status político atual, possa falar na linguagem do sistema de Estados.
- essa entidade tenha uma visão “ampla e criativa”, que vá além das ferramentas institucionais, e trabalhe para pensar em como a Catalunha pode se projetar e se mover melhor pelo mundo, tanto no âmbito da cultura quanto da economia, da segurança ou do papel da diáspora catalã.
Finalmente, o Catalonia Global Institute se apresenta como essa entidade, que tem a “aspiração de trabalhar com agentes públicos e privados para a internacionalização da Catalunha com visão e aspirações de Estado“.