Na manhã deste sábado, as bases de funcionamento do Conselho da República foram oficialmente apresentadas. O evento aconteceu no teatro KVS, em Bruxelas. Com exceção de Meritxell Serret, conselheira do governo catalão exilado e delegada da Generalitat de Catalunya perante a União Europeia, os demais conselheiros do governo fizeram discursos, que explicavam como o Conselho da República será importante para a efetivação da independência da Catalunha, proclamada em 27 de outubro de 2017.
A seguir, um resumo dos discursos de Clara Ponsatí, Toni Comín (cérebro da estruturação do Conselho da República), Lluís Puig, Quim Torra e Carles Puigdemont.
Clara Ponsatí
“Na história dos países, há dias constituintes. Na Catalunha, o 1º de outubro foi um dia desses. A proclamação da independência continua em vigor, e a constituição da primeira instituição republicana é um passo evidente disso. A Catalunha deve seguir lutando, agora, para estabelecer definitivamente a República, e que seja reconhecida internacionalmente. O Conselho fecha o capítulo de comunidade autônoma. Hoje dizemos ao mundo que os catalães começamos a nos organizar à margem da legalidade espanhola.”
Toni Comín
“O Conselho da República não será retórica, nem simbolismo. Tampouco será uma representação. Será ação. O primeiro dos âmbitos de atuação do Conselho será político, que promoverá ações a partir de um órgão executivo. O segundo âmbito será internacional. Uma iniciativa cidadã europeia promoverá a ativação do Artigo 7 para a suspensão dos direitos do Estado espanhol na União Europeia. O Estado espanhol não reúne os requisitos para fazer parte da UE.”
Comín também declarou que “trabalharão em um livro branco para promover o reconhecimento da República Catalã”.
“A reta final será dramática, pois estamos diante de um Estado que não é normal. Transformaram a unidade territorial em uma religião sinistra. Temos de ser honestos: somente seremos independentes por meio da mobilização, na rua. Com luta não violenta, mas com luta. Com ação pacífica, mas com ação.”
“A independência da Catalunha é a autêntica derrota e autêntico fracasso da extrema direita espanhola. A independência catalã será sua tumba. E quando formos independentes, ajudaremos os nossos irmãos espanhóis a democratizar seu Estado. Seremos generosos na vitória.”
Lluís Puig
Palavras sobre o estado em que se encontra, agora, a República Catalã: “A República não está limitada a um território físico, dela formam parte todos os cidadãos inscritos. Não é um ‘lobby’ regido por poucos, mas sim uma democracia participativa.”
Puig também anunciou a criação de um aplicativo móvel do Conselho da República que “nos permitirá ter um diálogo no dia a dia muito mais cômodo e ágil.”
Quim Torra
Palavras do Presidente da Generalitat de Catalunya, que acabava de chegar da Eslovênia:
“Viemos de um lugar que, em todos os momentos, nos mostrou seu apoio incondicional, que ama a liberdade como nós, e que nos disse “Façam”, que estaremos ao lado de vocês.”
Torra disse que “foi recebido pelas autoridades eslovenas graças ao trabalho de internacionalização que fazem os líderes políticos catalães exilados”. O presidente descreve quatro vias de ações republicanas. “O primeiro é o espaço livre europeu. O segundo, ainda que não pareça, são os presídios”. “Com sua greve de fome [de quatro dos líderes políticos presos], nos enviam uma mensagem de esperança.”
“Os catalães temos três grandes consensos. O primeiro é que não nos sentimos representados pelo Rei da Espanha. Acabou, não falemos mais disso. O segundo consenso é que é intolerável a repressão política. E o terceiro é que isso é solucionado por meio do voto”.
Torra declarou estar convencido da vitória, porque “estamos do lado bom da história”. “Votamos a declaração de independência, e esse é o ponto de partida. É o que temos que efetivar. Não há volta atrás na liberdade. Os eslovenos estavam bem seguros disso, seguiram com todas as consequências. Façamos o mesmo, porque não há volta atrás, e estamos dispostos a tudo para sermos livres”.
Carles Puigdemont
“Nos dias 1º de outubro, 27 de outubro e 21 de dezembro decidimos que queremos viver em uma República. Queremos viver em um Estado independente em forma de República, que se governe de forma mais livre e mais justa que o Estado espanhol. As provas de que esta aspiração legítima, que têm todos os povos do mundo, não tem espaço na monarquia espanhola são a brutal repressão de 1º de outubro, a perseguição aos nossos líderes políticos e sociais, e a nossa liberdade vigiada.”
“A repressão não tem fronteiras. Quando se reprime o direito à liberdade de expressão, não reprime somente os que pensam de uma determinada maneira, mas todos. Durante todos os meses do 155, com dirigentes políticos e sociais presos, não foram capazes de propor nenhuma alternativa à independência. Eles não têm.”
“Durante todo esse tempo, apesar do medo e da repressão, tivemos uma vitória dupla. A primeira foi no referendo de 1º de outubro: votamos e ganhamos. E a segunda é que perdemos o medo da repressão“.
“Hoje apresentamos a semente da terceira vitória: ficarmos mais livres da repressão. O Conselho da República é livre. O Conselho chegará onde nossas instituições não podem chegar. E faremos isso.”
“A sociedade catalã nos observa muito atentamente, à espera dos passos que temos que dar. Aos cidadãos pedimos muitas coisas, e eles fizeram todas. Puseram camisas de todas as cores possíveis, foram de ponta a ponta do país [em referência à Catalunha], foram votar quando necessário, imprimiram cartazes, colocaram laços amarelos, e foram engenhosos na hora dos protestos. Muito obrigado a todos. “
Puigdemont reconhece que a sociedade catalã exige uma única coisa: unidade. “Há um clamor que percorre a Catalunha, e deve ser ouvido. Se não fizermos isso, teremos pouca autoridade moral para dizer a vocês o que deve ser feito”.
“Precisamos de muita gente apoiando, de muitos cidadãos que queiram ser cidadãos da República. Essa é a melhor carta de apresentação ao mundo quando formos solicitar o reconhecimento. O Conselho é o melhor instrumento para mostrar ao mundo que queremos ser uma República, mas também uma nova maneira de administrar.”